CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE
- Fernanda Mário Brentegani
- 12 de abr. de 2021
- 18 min de leitura
RESUMO- Este artigo almeja elucidar a importância do conhecimento em neurociência no tratamento da obesidade, bem como apresentar a análise da metodologia desenvolvida pela autora Fernanda Mário Brentegani no livro “Guia prático de emagrecimento para terapeutas” que tem como objetivo, ativar áreas cerebrais para que o emagrecimento aconteça de maneira saudável e duradoura. Trata-se de uma pesquisa de campo, de análise documental e de natureza qualitativa. Foram utilizados prontuários de 20 clientes de ambos os gêneros e com idades entre 25 a 40 anos. Ao verificar como o indivíduo vivencia seu dia a dia, é importante considerar, que não tem como garantir um emagrecimento definitivo e duradouro, sem tratar a raiz do problema que se encontra na mente. Para que o emagrecimento ocorra como aprendizagem de um novo hábito congruente de uma pessoa magra, o terapeuta precisa trabalhar 4 engrenagens cerebrais sendo elas, pensamento, sentimento, comportamento e um novo discurso padrão. Das sessões aplicadas, pode-se observar que houve uma respectiva melhora a nível físico, mental e social do paciente, ou seja, a metodologia atuou na mudança de hábitos, estilo e qualidade de vida, melhora da compulsão alimentar, autopercepção e autoconfiança, sendo o emagrecimento apenas a consequência de toda a transformação adquirida no decorrer das sessões.
1. INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença que acomete grande parte da população mundial, sendo responsável por causar inúmeros problemas de saúde, como por exemplo, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, placa de ateroma, câncer, esteatose hepática, problemas respiratórios, entre outros, podendo levar inclusive o indivíduo a morte.
Além das questões de saúde, a obesidade pode ter como consequências, desequilíbrios emocionais como baixa aceitação, sentimento de frustração, insegurança, problemas de relacionamento, conflitos, isolamento social, stress e até depressão. Outra questão que merece destaque, é que são várias as dores que um sujeito passa por se encontrar acima do peso, como situações de preconceito, constrangimento no seu dia a dia que afetam suas relações sociais, no trabalho, intimidade, lazer, ao experimentar uma roupa, se olhar no espelho, ao se ver limitado em suas atividades, entre outros.
Além do entendimento das suas complicações, para tratar obesidade é importante conhecer a fundo os múltiplos fatores as quais ela é gerada (genética, problemas endócrinos, metabólicos, emocionais e comportamentais) para que o profissional consiga identificar sua causa e tratar a raiz do problema.
Dentro deste contexto, a neurociência só tem a agregar no tratamento da obesidade, principalmente para tratar fatores emocionais, comportamentais e mudanças de hábitos, pois entende-se que o pilar do emagrecimento duradouro tem seu inicio na transformação da mente, e na mudança de atitudes, sendo o emagrecimento apenas uma consequência desta transformação.
O grande fracasso das pessoas que procuram emagrecimento ocorre por acreditar que dietas da moda, métodos rápidos e “milagrosos”, procedimentos estéticos e cirurgias irão resolver sem tratar raiz do problema.
Outra questão que merece ser levada em consideração, é a falta de adesão ao tratamento, nesse sentido, é comum uma pessoa iniciar uma dieta, se matricular na academia e desistir no meio do caminho. Isso ocorre porque elas se sabotam, desanimam, pois, o indivíduo obeso tem enraizado em sua mente pensamentos, crenças, sentimentos e comportamentos que os levam a engordar, e por mais que ele se encontre mais magro e realizando pontualmente ações para emagrecer, se não aprende a pensar com uma mente magra, ele engorda.
É válido lembrar que, muitas pessoas que estão acima do peso sofrem de compulsão alimentar (TCAP) ou descontam na comida as suas emoções em desequilíbrios, faltas, traumas, e buscam alimentos de forma compulsiva, impulsiva e exagerada como forma de alívio ou prazer imediato.
Destarte, a pessoa só tem sucesso no emagrecimento definitivo quando a compulsão, emoções, pensamentos e comportamentos são ressignificados, e um novo padrão de aprendizagem, pensamento e comportamentos estabelecidos. Assim, é preciso estimular novas conexões neurais para o sujeito parar de agir dominado pelo seu sistema límbico, e ativar áreas cerebrais como o córtex pré-frontal (área racional e do pensamento analítico).
Para trabalhar estas áreas cerebrais e ativar novas conexões neurais do cliente de emagrecimento, foi criado uma metodologia a qual será explicitada e validada neste trabalho.
Este artigo tem como objetivo geral elucidar a importância do conhecimento em neurociência no tratamento da obesidade, bem como apresentar a análise da metodologia desenvolvida pela autora Fernanda Mário Brentegani no livro “Guia prático de emagrecimento para terapeutas”, cujo objetivo é ativar áreas cerebrais para que o emagrecimento aconteça de maneira saudável e duradoura. Nesse sentido, quem lê este artigo, poderá lançar mão deste estudo para aprimorar os procedimentos já utilizados e gerar mais resultados e adesão do cliente ao tratamento.
O tema deste trabalho é relevante na medida em que, com tantos os problemas gerados pela obesidade, ela não deve ser vista meramente sob o âmbito da estética. Nesse sentido, o conhecimento da neurociência e de como esses processos se desenvolvem na mente do indivíduo, irá trazer a luz como eles podem ser transformados e enraizados através da neuroplasticidade e da formação de novas conexões neurais.
Todo este processo se torna fundamental e imprescindível para que o emagrecimento seja alcançado de maneira saudável, definitiva e interiorizado, sem que o sujeito necessite apelar por remédios, cirurgias e procedimentos estéticos, que sempre vem acompanhado de riscos e efeitos colaterais na saúde.
Trata-se de uma pesquisa de campo, de análise documental e de natureza qualitativa. A análise qualitativa procura estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmando ou não os pressupostos da pesquisa, ampliar o conhecimento sobre o assunto e encontrar uma categoria que abranja elementos ou aspectos que se relacionam entre si, estabelecendo classificações (MINAYO, 2001).
Para a análise de dados foram utilizados 20 prontuários de pacientes que se apresentavam em graus diferentes de obesidade, e que se submeteram a 10 sessões de emagrecimento. Para cada sessão foi utilizado um questionário específico elaborados pela autora e publicados no livro “Guia prático de emagrecimento para terapeutas”, que foram pensados através das técnicas de Programação Neurolinguística (PNL), técnica que usa a linguagem para ajudar indivíduos a mudar seus pontos de vista e crenças (ROMILLA & Kate, 2014) e Terapia Cognitivo-Comportamental, abordagem considerada diretiva, breve focada no problema atual do paciente (Beck e Judith, 2013), com o objetivo de modificar estruturas neuronais para que o cliente ao longo do trabalho apresentasse um novo padrão mental e comportamental congruente de uma pessoa magra e a aprendizagem de hábitos mais saudáveis.
2. DESENVOLVIMENTO
Define-se neurociência a ciência que estuda o sistema nervoso, sua estrutura, desenvolvimento, evolução, relação com o comportamento, com a mente e suas relações (Guerra,2011; Bear,2002).
Dentro da neurociência existe um conceito chamado “neuroplasticidade” que nada mais é do que a capacidade que o cérebro tem de se recuperar e estabelecer novas conexões neurais (Lent,2002). Sendo assim, se um indivíduo muda a sua forma de pensar, agir e sentir ele pode transformar a sua realidade, ou seja, se uma pessoa que se encontra acima do peso aprendeu a ter uma mente gorda e um comportamento que a mantém neste padrão, ela pode muito bem reprogramar a sua mente para pensar e se comportar diferente, condizente com uma pessoa magra.
Veja bem: quando algum comportamento se repete, o cérebro cria vias sinápticas mais rápidas, de maneira que uma ação aciona a seguinte de forma quase automática. As conexões sinápticas nada mais são do que as comunicações realizadas entre os neurônios (Brust,2000). Dentro deste contexto, o cérebro deve ser estimulado para o paciente emagrecer, ou seja, para que o processo seja satisfatório e duradouro, o indivíduo precisa mudar de dentro para fora, aprendendo novos pensamentos, sentimentos e comportamentos referentes a sua alimentação, prática de atividade física, hábitos e estilo de vida.
Para entender melhor, imagine um indivíduo que passou por um processo de emagrecimento que se encontra 30 quilos mais magro. De repente, ele se vê com um corpo magro, mas com a cabeça de uma pessoa obesa e com os hábitos antigos, consequentemente, tempos depois ela volta a engordar progressivamente até voltar a forma antiga, ou engordar ainda mais.
Se este paciente for programado para ter uma mentalidade magra e hábitos mais saudáveis, irá conseguir emagrecer e se manter em forma (Brentegani,2020). Para que isso aconteça, é preciso a criação de outra estrada neurológica que se forma através de um novo pensamento, comportamento e um discurso padrão diferente. Tudo isso, é realizado através de novas conexões neurais que são pontes feitas entre as células nervosas para a transformação de sinais elétricos ou químicos.
O nosso cérebro tem cerca de 86 bilhões de neurônios que estão transmitindo sinais elétricos através de nossos pensamentos a todo o instante, moldando assim a realidade, personalidade e crenças de um indivíduo. Por exemplo, quando uma pessoa pensa que não vai dar certo, que não é possível emagrecer, que o emagrecimento não é para ela, no seu cérebro, isso irá se tornar uma verdade, porque é o que ela percebe da sua realidade, e com isso, acabará criando uma conexão neural, que se formará com a informação recebida do meio e, seu comportamento diário irá corresponder ao pensamento que está tendo de si (Brentegani,2020).
Quando uma pessoa está passando por um processo de emagrecimento, é fundamental para o sucesso de seu tratamento que sua mente seja trabalhada para que seja possível emagrecer definitivamente. O indivíduo necessita ter consciência de que através do seu pensamento e intenção, ele cria sua própria realidade.
Para que você entenda melhor tudo que está sendo descrito, existe uma área de estudos da biologia chamada Epigenética onde explica que nossa saúde, características e predisposições não se encontram apenas em nossos genes. Através da Epigenética é possível entender que podemos inclusive mudar o nosso DNA através de variações não genéticas adquiridas durante a vida, como por exemplo, influência ambientais e hábitos cotidianos.
Segundo essa ciência, é possível alterar o comportamento dos genes, sem modificar o código genético, e isso tem uma influência muito grande no tratamento da obesidade (Francis, 2015).
Dentro deste contexto, baseado em todos os princípios da neurociência, a pessoa passa a “ser” e se “comportar” de acordo com que ela pensa e acredita, e para que um indivíduo pense com uma mente magra, ela precisa aprender novos hábitos. Segundo o psicólogo Maxuel Malt (1972), toda pessoa é capaz de aprender um novo hábito, para isso, ela precisa repetir esta nova atitude/comportamento todos os dias entre 21 a 60 dias seguidos para que se torne um hábito automático em sua vida.
Todos os indivíduos são dotados de neuroplasticidade, ou seja, todas as pessoas tem um grande potencial de transformação, basta estimular os neurônios a formar novas conexões neurais através da um novo pensamento, sentimentos e ações para se moldar e co-criar uma nova realidade. Assim, o sujeito passa a ter uma nova visão de si mesmo e sobre o emagrecimento que tanto procura, além de conquistar mais saúde, hábitos mais saudáveis e melhor qualidade de vida.
Para realizar este processo, através da neuroplasticidade, existem quatro chaves (caminho neural) utilizadas para mudar o cérebro do obeso, são eles: primeiro estimular um novo pensamento, segundo um novo sentimento, terceiro um novo comportamento e por último, um novo discurso padrão (BRENTEGANI,2020, p.27).
Para compreender como tudo isso ocorre, é preciso ter em mente que o cérebro não é formado apenas por neurônios, por isso é importante conhecer algumas áreas cerebrais, para trazer a luz como elas influenciam no comportamento.
No cérebro existem duas áreas chamadas córtex pré-frontal e sistema límbico que estão intimamente ligadas com o comportamento, emoções e aprendizagem do indivíduo. O sistema límbico é a área das emoções e sentimentos ligados aos desejos e prazeres. Ele é impulsivo e são emoções que controlam o comportamento do indivíduo quando este sistema atua. Já o córtex pré-frontal é movido pela razão, responsável pelo indivíduo pensar que gostaria de se comportar de tal maneira, e no momento que ele pensa, se comporta. É um sistema consciente, que consegue planejar o futuro, ou seja, de recompensa tardia. Ele é totalmente racional e analítico (Brentegani,2020).
Compreender estes dois sistemas é fundamental para ajudar o cliente a transformar o comportamento e mente “obesa”, em um comportamento e mentalidade compatível de uma pessoa magra. Sendo assim, a proposta de trabalho com base na neurociência é que o profissional tenha condições de trabalhar interagindo sistema límbico e córtex pré-frontal na formação de novos hábitos no indivíduo e na quebra dos antigos hábitos, para que posteriormente ele deixe de comer agindo pelo sistema límbico e passando a agir mais pelo córtex pré-frontal.
Através do sistema límbico e do pré-frontal, somos capazes de criar estratégias de processamento de informação e ajustar nossos conhecimentos para entrar em ação.
O córtex pré-frontal do indivíduo que sofre de compulsão alimentar se encontra totalmente desequilibrado, podendo muitas vezes estar inativo diante do sistema límbico, por isso, a pessoa exagera com a comida e a tem como vício. Tanto o sistema límbico como o córtex pré-frontal devem sempre estar em equilíbrio para que a pessoa consiga se manter no peso. Agora, para a pessoa emagrecer é preciso que o pré-frontal esteja dominante em torno de pelo menos 70% a 80% em relação ao sistema límbico (Brentegani,2020).
É importante também entender, que nenhuma pessoa consegue agir 100% através do seu pré-frontal, ela poderá ter deslizes ao longo do tratamento e, para evitar que os deslizes aconteçam e não se tornem hábitos, é preciso ativar o córtex pré-frontal do sujeito, antes que ele caia em compulsão pela comida proibida. Por isso, é fundamental ensinar o cliente a pensar na “recompensa tardia” e não no prazer imediato e questões como estas serão acionadas: o que ele irá ganhar se não deslizar? O que ele vai perder se cair em compulsão? Que dor ele vai sentir se não resistir? Essas são perguntas que ativam o córtex pré-frontal do cliente de emagrecimento.
O indivíduo ao aprender a pensar antes de agir, será capaz de criar um hábito mais positivo, e após, ele deverá apenas persistir nesta nova atitude para que seja possível formar uma conexão neural firme e profunda no cérebro, ou seja, a criação de um novo estilo de vida.
Mas como fazer o cliente agir através do córtex pré-frontal? Como ajudar uma pessoa a emagrecer mesmo quando se trata de um problema metabólico e hereditário?
As ferramentas/sessões de emagrecimento propostas no livro “Guia Prático de emagrecimento para terapeutas”, foram criadas para realizar esta conversa entre sistema líbico e córtex pré-frontal, equilibrando-os.
As sessões irão ensinar que emagrecer exige planejamento, consciência do que está sendo realizado, e que deve ser feito por etapas, bem como, irá ajudar na criação de insights e conexões que reforcem a mudança e transformação. O cliente só precisa enxergar o próximo peso e não a estrada inteira, e isso traz um conforto muito grande, assim, o emagrecimento não se torna um fardo e, a ansiedade e a compulsão também não são estimuladas.
Se o cérebro de uma pessoa ficar somente na razão (córtex pré-frontal), ela fica chata. Como já foi dito, de vez em quando tem que ter o deslize como, por exemplo, tomar um refrigerante ou comer um doce. Por isso, a pessoa tem que viver um dia de cada vez, sem ansiedade. Desta maneira, se o cliente sustentar a não ingestão de hoje, significa que amanhã ele também poderá conseguir.
Quando se pensa a longo prazo, de que um comportamento é para sempre, o sistema límbico entra em ação lembrando isso o tempo todo, e o sujeito com certeza irá cair em compulsão. Isso ocorre porque ninguém consegue ser o tempo todo racional. Por isso, que dietas tão restritivas fazem mal, porque de repente a pessoa não aguenta e coloca tudo a perder, aumenta a sua ansiedade, compulsão e não aprende a pensar e ter hábitos congruentes com sua meta (Brentegani,2020).
Durante o processo, a mente do indivíduo deverá ser blindada para enfrentar todas as tentações, porque certamente elas irão acontecer. A pessoa tem que compreender que todo resultado almejado, dependerá da forma como ela pensa e se comporta. Ou seja, seu resultado será congruente com seus hábitos, pensamentos e comportamentos então, se ela age com atitudes de uma pessoa gorda ele vai engordar, caso se comporte como uma pessoa magra e reprograma a mente a pensar magro, emagrece.
É preciso entender que, ao deixar o indivíduo agir mais pelo sistema límbico o resultado não será possível, pois ele vai desistir do tratamento, irá voltar a engordar, e ainda reprovar o trabalho dos profissionais envolvidos. Pior, poderá procurar outros meios como remédios e uma bariátrica, por exemplo. Sendo assim, é fundamental acordar o cliente e traze-lo sempre de volta a realidade e a focar nos seus objetivos.
Toda pessoa que sofre de compulsão seja ela por drogas, álcool, comida ou compras, estão realizando escolhas através do seu sistema emocional (límbico). Em suas mentes, elas podem desistir de qualquer coisa, menos do vício e mal conseguem notar como isso afeta a sua vida. O vício é sua válvula de escape e ele não entende que o efeito é momentâneo, depois tudo piora (Brentegani,2020).
Entenda o que acontece quando o sistema límbico controla a vida do sujeito: o córtex pré-frontal irá ligar o sistema dopaminérgico ao sistema do comportamento. Caso não existisse o sistema pré-frontal atuando como filtro, o sistema dopaminérgico (emoção, sentimento imediato, desejo) influenciará diretamente o sistema comportamental todas às vezes. Sendo assim, o profissional tem que trabalhar para que o cliente utilize este filtro para conseguir controlar seus pensamentos e ações.
O problema é que, o “propósito de comer” da pessoa obesa com o objetivo de sentir prazer já está enraizado no seu inconsciente, em seu sistema líbico e assim, eles começam a se confrontar com o sistema comportamental.
Por isso que durante todo o programa de emagrecimento é enfatizado que, não adianta o cliente ter ações no momento em que o alimento se encontrar na sua frente, ele tem que estar preparado e programado para enfrentar estas situações. Se ele tiver um sistema racional atuando, vai conseguir sair de uma situação de compulsão da melhor maneira.
Para isso acontecer, existem duas técnicas infalíveis que devem ser ensinadas: primeiro, ensinar o cliente a dialogar com seus vícios através de perguntas; e segundo, visualizar os problemas presentes e futuros se continuar engordando, ou seja é primordial trabalhar na sua dor para que nunca se esqueça de todos os problemas vivenciados e riscos por estar acima do peso.
Normalmente o córtex pré-frontal é usado para direcionar o indivíduo a se comportar rumo a um propósito específico, mas como isso surge? Tudo é desencadeado através dos pensamentos que é a primeira engrenagem cerebral da mudança de hábitos.
Ao considerar que o sujeito busca na comida uma forma de alívio e prazer, é preciso entender como esse mecanismo ocorre em sua mente para tratar. Quando uma pessoa sente prazer, seu cérebro libera um neurotransmissor chamado serotonina, mas o sujeito também pode ter um aumento de dopamina num primeiro momento (impulso antes de atacar a comida, ou apenas ao imaginá-lo), mas no final, após o deslize não irá sentir satisfação, e sim sofrimento por não ter conseguido se controlar. Essa é a maior frustração do obeso, é a dieta com dor, por isso não dura muito tempo.
Mas como fazer para que os clientes realizem uma dieta sem dor? Como ensiná-los a usar o córtex pré-frontal?
Quando uma pessoa começa a fazer dietas e atividades físicas, em um primeiro momento ela vai sofrer. Sente dor de não poder comer uma coisa ou outra a qual estava habituada, pode se sentir injustiçada por ter que submeter a uma dieta e ter que ir para academia, porque ela não gosta. Tudo isso acontece porque é ruim liberar dopamina para uma coisa que você não pode ou não quer, então é desafiante no início quebrar seus hábitos, principalmente para aqueles que estão com seus vícios enraizados há muito tempo. Por isso, no começo, todos irão sofrer um pouco e cabe ao profissional explicar isso ao cliente, para que ele entenda e entre no jogo consciente do que ele vai passar, e que é necessário superar para que ele se transforme.
E como diminuir esta dor a ponto conquistar um novo comportamento?
Fazendo o cliente repetir várias vezes uma ação mais positiva, ou seja, ensina-lo a ter uma conversa diária entre seu sistema líbico e seu córtex pré-frontal.
Para isso, é preciso intervir na primeira engrenagem cerebral da mudança de hábitos que é a transformação do pensamento (raiz do problema), e isso, será realizado através das sessões de emagrecimento ou agindo na terceira engrenagem cerebral que é o comportamento do cliente (Brentegani,2020).
Para formar um novo comportamento no momento em que o sujeito estiver com alimentos em sua frente, é preciso instigá-lo a realizar perguntas que o desperte e que sejam diferentes das que ele tinha o hábito de fazer anteriormente, para que, partindo dessas questões ele consiga mudar seus comportamentos.
É aquela velha história: se continuar a fazer as mesmas coisas, terá sempre os mesmos resultados (Lewis Carroll, no filme Alice no país das maravilhas,2010). Portanto, se o cliente continuar a fazer as mesmas perguntas o qual tinha o hábito de realizar antes de comer, terá os mesmos comportamentos antigos e vai continuar a engordar.
O segredo de tudo é treino, prática e repetição. É estar treinado e preparado antes do ato acontecer. É fundamental motivar o cliente, sem deixa-lo esquecer as conquistas e vitórias que ele terá ao longo do processo de emagrecimento. Assim, o profissional também estará ativando o seu córtex pré-frontal, pois estará trazendo a consciência do sujeito todo o pesadelo e que ele não quer mais viver, e lembrando tudo que ele gostaria de ter no lugar dessa dor.
2.1 Explicações metodológicas sobre os questionários aplicados
A partir de agora será apresentado o roteiro das sessões utilizadas bem como seus objetivos:
1° Sessão – “Entrevista de 1º sessão”
A primeira sessão teve como objetivo conhecer o cliente, explicar o método de trabalho, tirar dúvidas e, despertá-lo para se comprometer e responsabilizar pelo processo de emagrecimento.
2º Sessão – “Planejamento e raio X”
A segunda sessão foi trabalhada o planejamento, pois considera-se este um dos grandes pilares para o sucesso do emagrecimento e um direcionador para o profissional e o cliente nunca falhar. É preciso entender que o cliente de emagrecimento tem um pensamento padrão, hábitos e estilo de vida de uma pessoa que se encontra acima do peso, por isso desde o início, é preciso conduzi-lo para que ele consiga se organizar e criar uma rotina de acordo com seu objetivo. A organização é outro fator importante, porque ela será uma baliza de tudo que precisa ser realizado para alcançar a sua meta.
3º Sessão – “Trabalhando a compulsão”
Na terceira sessão, o objetivo foi descobrir o grau de compulsão do cliente de emagrecimento e trabalhá-las. Como avaliação da compulsão, foi utilizado a “Escala de compulsão alimentar periódica” dos autores de Gormally J, Black S, Daston S, Rardin D. (1982) e após a aplicação do teste, como intervenção, foi aplicado a ferramenta “trabalhando a compulsão” descrita no Guia Prático para terapeutas da autora.
4º Sessão – “Descobrindo os meus sabotadores”
Através da quarta sessão, foi realizado um trabalho para identificar os sabotadores do emagrecimento e verificar quais estão mais atuantes na mente do paciente para validá-los.
5º Sessão – “Transformação de um comportamento alimentar”
Esta sessão serviu para trabalhar um comportamento negativo persistente, como por exemplo, pensamentos sabotadores, crenças limitantes e dificuldades em quebrar hábitos alimentares.
6º Sessão – “Ressignificando crenças limitantes”
Esta sessão foi preparada para ressignificar os pensamentos sabotadores, crenças limitantes ou ideias destrutivas que ainda se encontravam presentes.
7º Sessão – Criar uma nova realidade
Na sétima sessão, o objetivo foi de fortalecer no cliente a criação de uma nova realidade, um novo hábito, ou seja, uma transformação de mentalidade.
8º Sessão – Características de uma mente magra
Nesta sessão, foi reforçado no cliente a necessidade de se pensar magro, e ajustado os pensamentos e comportamentos que ainda precisavam ser trabalhados.
9º Sessão – SWOT pessoal voltada ao emagrecimento
Na nona sessão, foi realizado uma análise sobre as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças sobre o contexto em que o cliente estava inserido, podendo visualizar sistemicamente melhorias para o alcance do seu objetivo de emagrecer. Para o sujeito adquirir uma nova identidade, condizente de uma pessoa magra, o terapeuta tem a função de analisar o que está apoiando e dificultando seu processo de emagrecimento. Portanto, para que esta análise seja profunda, é importante validar e questionar especificamente cada ponto que o cliente citar.
10º Sessão – “Fechamento do ciclo”
A última sessão de fechamento do ciclo, teve como objetivo clarear a trajetória do cliente para que ele pudesse observar o quanto evoluiu, mensurar suas conquistas e faze-lo entender que este é um propósito que sempre deve se manter vivo. É preciso empoderá-lo a caminhar sozinho após o programa, a seguir com seus objetivos e, estimular a autoanálise para ajustar habilidades/comportamentos/ pensamentos/ ações que ainda precisam ser melhorados.
3 RESULTADOS
Baseado na análise de 20 prontuários, foi possível observar que as pessoas que aderiram o projeto, conseguiram efetivamente a mudar seus hábitos, a melhorar problemas de saúde como o alto colesterol (LDL), diabetes mellitus, ansiedade e depressão, bem como melhorar a autopercepção, autoestima e autoconfiança perante as suas relações de trabalho, sociais, amorosas e familiares. A nível de emagrecimento, foi observado que cada paciente apresentou um tempo e resultados específicos, porém, ao aprenderem a ter um maior autocontrole sobre a comida, a pensar congruente com uma pessoa magra e a realizar mudanças de hábitos, o emagrecimento foi apenas uma consequência de todas as suas transformações.
As sessões contribuíram muito a ressignificar várias questões que estavam impedindo os clientes a emagrecer, bem como ajudou a controlar a fome emocional e compulsão pela comida.
Dos 20 pacientes observados, apenas dois desistiram no meio dos atendimentos não apresentando grandes resultados. Veja a tabela a seguir:

4 CONCLUSÃO
O método proposto irá se tratar de uma técnica muito eficaz que promove emagrecimento e faz com que o cliente consiga manter o novo peso adquirido. Através dos questionários e sessões realizadas, foi possível observar que é possível emagrecer uma pessoa através dos princípios da neurociência, incentivando na mudança das suas 4 engrenagens cerebrais.
Dos 20 pacientes que participaram destas sessões, todos apresentaram um emagrecimento e mudança de mentalidade e hábitos de vida, embora estas transformações se aparentaram em níveis diferentes a cada paciente. Portanto, conclui-se que, esta metodologia não é indicada apenas a pessoa que está em busca de emagrecimento, ela ajuda também aqueles que estão precisando realizar uma manutenção da sua saúde, melhorar a qualidade de vida, emoções, hábitos e não estão conseguindo fazer isso sozinhos.
As ferramentas e sessões tratam o indivíduo de uma forma integral respeitando todos os fatores necessários para um emagrecimento definitivo e duradouro, mas o terapeuta deve sempre estar atento em trabalhar a motivação e a adesão do cliente ao tratamento, bem como, ao perceber a falta de adesão por parte do cliente, é preciso conscientizá-lo que para seguir adiante, é preciso estar presente, ativo e comprometido. Caso contrário, o terapeuta não deverá dar sequência ao tratamento, pois estará perdendo o seu tempo e o do cliente, se frustrando com os resultados, e comprometendo a sua atuação profissional, pois o paciente quando não apresentar resultados, irá responsabilizar o profissional, e não a si próprio pelo fracasso. Esta é uma questão que dever ser considerada e ponderada em qualquer trabalho de emagrecimento.
Finalizando, quanto mais conhecimento científico o profissional que trabalha com emagrecimento adquirir, mais consistência e resultados ele irá apresentar, nesse sentido, a neurociência, epigenética, os conceitos de neuroplasticidade são a chave para desvendar e tratar a obesidade.
REFERÊNCIAS
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